Até mesmo os Estados Unidos mantêm o serviço postal, o United States Postal Service (USPS), estatizado com 600 mil trabalhadores. Lá, grandes empresas como Fedex e DHL atuam na área de encomendas, sem concorrer em outros serviços prestados pela estatal, como o pagamento do cheque do seguro-desemprego, que pode ser descontado nas agências dos correios. Oposição e trabalhadores reagem a mais esta proposta entreguista de Bolsonaro.
Os integrantes do Comitê Contra a Privatização dos Correios elaboram um calendário que prevê uma série de atos políticos na semana que antecede o aniversário da ECT, em 20 de março. A programação inclui o Dia Nacional de Mobilização Contra a Privatização, em 19 de março, e a Plenária Nacional dos Trabalhadores dos Correios Contra a Privatização, no dia seguinte.
A estatal está na mira do ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, desde agosto de 2019, quando foi incluída com mais oito empresas na carteira do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Matéria da revista ‘Veja’ publicada em janeiro passado afirma que a privatização se tornou uma obsessão também para o Ministro das Comunicações, Fabio Faria, que quer a todo custo concluir esse projeto ainda em 2021.
Emblematicamente, ambos acompanharam o chefe na ida ao Congresso, juntamente com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos. Sob o pretexto de “ampliar o investimento privado no setor”, a nova proposta visa de fato, além da entrega da empresa a interesses privados, fazer com que o serviço postal universal atribuído à União seja feito por meio de contratos de concessão.
Alertas que vêm sendo feitos pela categoria é que o comércio eletrônico brasileiro tem nos Correios a principal plataforma logística para entregas de encomendas com qualidade e preços acessíveis. Uma eventual privatização, além do potencial de causar um apagão logístico no país, tende a encarecer de forma significativa o custo das entregas.
A empresa está presente em todos os municípios brasileiros, e a confirmação da venda pode deixar áreas periféricas e de difícil acesso, consideradas menos lucrativas, sem serviço postal.
Além das entregas de cartas e encomendas, os Correios entregam vacinas, fazem a logística das provas do Enem, entregam livros escolares e mantimentos, exportam e importam, levam informação e emitem documentos, entre outros serviços. Muitos deles não geram lucros, mas cumprem a função social da empresa de garantir o direito constitucional à prestação de serviço postal em todos os municípios brasileiros.
Em 2019, os Correios tiveram receita líquida de R$ 18,356 bilhões, com lucro líquido de R$ 102,121 milhões. Embora o balanço de 2020 ainda não tenha sido divulgado, o balanço preliminar de janeiro a setembro do ano passado foi positivo em R$ 836,5 milhões. O último trimestre, quando o faturamento dos Correios tradicionalmente aumenta por causa das encomendas relacionadas à Black Friday e ao Natal, pode ter elevado esse lucro à casa do R$ 1 bilhão.
Parlamentares e sindicalistas têm lembrado que, em um universo de 270 países, entre desenvolvidos e emergentes, apenas oito têm serviços dos Correios privatizados. Portugal e Alemanha já começam a discutir a reestatização do serviço, que decepcionou após a privatização, e a Argentina passou pelo mesmo processo no governo de Cristina Kirchner, que reestatizou o serviço após queixas da população.
Até mesmo os Estados Unidos mantêm o serviço postal, o United States Postal Service (USPS), estatizado com 600 mil trabalhadores. Lá, grandes empresas como Fedex e DHL atuam na área de encomendas, sem concorrer em outros serviços prestados pela estatal, como o pagamento do cheque do seguro-desemprego, que pode ser descontado nas agências dos correios.
EM TEMPO
No ano passado, em plena pandemia, Peixoto descumpriu os termos do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) firmado um ano antes, cancelando 70 cláusulas trabalhistas unilateralmente, sob a alegação de que certos benefícios extrapolavam a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Em reação, milhares de trabalhadores da empresa paralisaram as atividades por 35 dias, entre agosto e setembro. Os grevistas enfrentaram a intransigência de Peixoto, que cortou até o vale-alimentação em plena pandemia, e alertaram que o desmonte dos Correios fazia parte de um roteiro que terminaria com a privatização.